Coronavírus: o mercado clandestino de testes


Donos de empresas que vendem produtos médicos e materiais para exames estão garantindo seus lucros com o comércio paralelo e até irregular de testes rápidos de coronavírus. Como se fossem lojas de departamento, a Ubuntu, de São Paulo, e a Biolar, de Rondônia, por exemplo, já anunciam ofertas e benefícios aos clientes, como entrega grátis e até cadastro de pré-venda. O problema é que a venda indiscriminada é proibida e, além disso, os testes rápidos têm 75% de chance de erro nos resultados negativos.

Por ter diagnóstico tão incerto e que exige interpretação médica dos sintomas clínicos, a venda de testes rápidos é permitida apenas para uso profissional. A Espanha chegou a devolver um carregamento de 9 mil testes à China por não funcionarem como o prometido. Por e-mail, a assessoria de imprensa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, informou que o autoteste para covid-19 é proibido, “não havendo espaço para oferta de produtos que possam ser utilizados pelo público leigo”, conforme está previsto em uma resolução de 2015 da Agência.

No site da paulistana Ubuntu, um banner de meia página divulga a pré-venda de kits de testes rápidos para covid-19. “Entre em contato agora e receba sua proposta”, sugere o anúncio, com destaque para o preço – R$ 80 cada teste. O produto vendido pela Ubuntu vem em caixas com 25 unidades, no valor total de R$ 2 mil. Detalhe: os testes, comprados na China, ainda não receberam autorização da Anvisa para serem comercializados no Brasil.


Interessada em agilizar as encomendas – mesmo sem poder fazer a entrega por enquanto –, a empresa pede pagamento antecipado. A Ubuntu promete que seu fornecedor, um fabricante chinês cujo nome não foi divulgado, produz testes suficientes para atender qualquer demanda dos clientes. Quem reservar mais de 60 mil testes – um total de R$ 4,8 milhões – ganha até desconto, conforme me informaram por telefone na sexta-feira ao prometer que a autorização da Anvisa “sairia ainda hoje”. Os pedidos só podem ser feitos por pessoas jurídicas, ou seja, quem tem CNPJ.

O mundo sofre uma escassez de testes e de outros equipamentos para o combate à epidemia, o que alimenta brigas comerciais entre países – o Brasil já foi prejudicado por isso na compra de respiradores, retidos nos Estados Unidos. Até agora, somente meio por cento dos testes prometidos pelo Ministério da Saúde do país chegaram aos pacientes. As declarações de Jair Bolsonaro desdenhando da epidemia já fizeram a China preferir comprar soja dos EUA em vez da brasileira. A promessa de uma empresa de que seria capaz de produzir testes suficientes para atender “qualquer demanda dos clientes” é, no mínimo, suspeita.

Leia a Matéria completa no site do The Intercept Brasil aqui.

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